Discurso aos peregrinos na Santificação

«Cantemos ao Senhor um cântico novo!».

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AOS PEREGRINOS QUE VIERAM A ROMA PARA PARTICIPAR NA CERIMÔNIA DE CANONIZAÇÃO DO PADRE PIO

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. É uma grande alegria encontrar-me de novo convosco, no dia seguinte à solene canonização do humilde Capuchinho de San Giovanni Rotondo. Saúdo-vos com afecto, queridos peregrinos e devotos que viestes a Roma em tão grande número para esta ocasião particular. Dirijo o meu pensamento, em primeiro lugar aos Bispos presentes, aos sacerdotes e aos religiosos. Uma especial recordação aos queridos Frades Capuchinhos que, em comunhão com toda a Igreja, louvam e agradecem ao Senhor as maravilhas por ele realizadas neste seu exemplar irmão de hábito. O Padre Pio é um modelo autêntico de espiritualidade e de humanidade, características peculiares da tradição franciscana e capuchinha.

Saúdo os que pertencem aos “Grupos de Oração Padre Pio” e os representantes da família da “Casa Alívio do Sofrimento”, grande obra de cura e assistência aos doentes, que surgiu da caridade do novo Santo. Abraço-vos a vós, queridos peregrinos provenientes da nobre Terra natal do Padre Pio, das outras regiões da Itália e de todas as partes do mundo. Com a vossa presença testemunhais como a devoção e a confiança em relação ao santo Frade de Gargano estão ampalmente difundidas na Igreja e em cada Continente.

2. Mas qual é o segredo de tanta admiração e amor a este novo Santo? Ele é, em primeiro lugar, um “frade do povo”, característica tradicional dos Capuchinhos. Além disso, ele é um santo taumaturgo, como testemunham os extraordinários acontecimentos que adornam a sua vida. Mas, sobretudo, Padre Pio é um religioso sinceramente apaixonado de Cristo crucificado. Ele participou no mistério da Cruz também de maneira física ao longo da sua vida.

Ele gostava de juntar a glória do Tabor ao mistério da Paixão, como lemos numa das suas cartas: “Antes de exclamar também nós com São Pedro “Oh!, como é bom estarmos aqui”, é preciso primeiro passar pelo Calvário, onde não se vê mais do que morte, pregos, espinhos, sofrimentos, trevas extraordinárias, abandonos e afrontas” (Epistolário III, pág. 287).

O Padre Pio realizou este seu caminho exigente de ascese espiritual em profunda comunhão com a Igreja. As incompreensões momentâneas com algumas Autoridades eclesiais não conseguiram diminuir esta sua atitude de filial obediência. O Padre Pio foi, em igual medida, um filho da Igreja fiel e corajoso, seguindo também nisto o luminoso exemplo do Pobrezinho de Assis.

3. Este santo Capuchinho, ao qual muitas pessoas se dirigem de todas as partes da terra, indica-nos os meios para alcançar a santidade, que é o fim da nossa vida cristã. Quantos fiéis de qualquer condição social, provenientes dos lugares mais diversos e das situações mais difíceis, iam ter com ele para lhe pedir ajuda! A todos ele sabia oferecer aquilo de que tinham mais necessidade, e que por vezes procuravam às apalpadelas, não tendo disso plena consciência. Ele transmitia-lhes a Palavra confortadora e iluminadora de Deus, permitindo que cada um fosse beber às fontes da graça mediante a assídua dedicação ao mistério das Confissões e a fervorosa celebração da Eucaristia.

Escrevia assim a uma sua filha espiritual: “Não receies aproximar-te do altar do Senhor para te saciares com a carne do Cordeiro imaculado, porque ninguém reunirá melhor o teu espírito como o seu rei, nada o aquecerá melhor do que o seu sol, e nada melhor que o seu bálsamo o suavizará”(Ibid., pág. 944).

4. A Missa do Padre Pio! Era para os sacerdotes uma chamada eloquente à beleza da vocação presbiteral; para os religiosos e os leigos, que acorriam a San Giovanni Rotondo, até em horas muito matutinas, uma extraordinária catequese sobre o valor e a importância do Sacrifício eucarístico.

A Santa Missa era o centro e a fonte de toda a sua espiritualidade: “Encontra-se na Missa costumava dizer todo o Calvário”. Os fiéis, que se aglomeravam em redor do seu Altar, sentiam-se profundamente atingidos pela intensidade da sua “imersão” no Mistério e sentiam que “o Padre” participava em primeira pessoa nos sofrimentos do Redentor.

5. São Pio de Pietrelcina apresenta-se assim diante de todos sacerdotes, religiosos e leigos como uma testemunha credível de Cristo e do seu Evangelho. O seu exemplo e a sua intercessão estimulam todos a um amor cada vez maior a Deus e à solidariedade concreta para com o próximo, sobretudo para com os mais necessitados.

Ajude-nos a Virgem Maria, que o Padre Pio invocava com o bonito título de “Santa Maria das Graças”, a seguir os passos deste religioso tão amado pelo povo!

Com estes votos, abençoo-vos de coração a vós aqui presentes, às pessoas que vos são queridas e a todos os que se empenham a caminhar na esteira espiritual do querido Santo de Pietrelcina.